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terça-feira, 20 de abril de 2010

Bolsa de Valores Sociais



As duas faces da moeda


O conceito é inédito e visa financiar projectos de luta contra a pobreza. Apesar de existir em apenas dois países, a Bolsa de Valores Sociais é um caso de sucesso, nomeadamente no Brasil, onde tem ajudado a colmatar inúmeras situações de carência social. É um método inovador e rentável para quem se preocupa com a responsabilidade social do seu negócio. Angola pode ser a próxima a acolher este organismo.

A Angola’in apresenta ao longo das próximas páginas as vantagens do sistema e os seus benefícios para as economias africanas.

Desengane-se quem associa este projecto a caridade ou filantropia. A filosofia diverge do conceito, definindo-se, no entanto, como um modelo de solidariedade. Neste caso, existe uma grande diferença: o doador conhece o destino do seu dinheiro antes de o disponibilizar e acompanha a evolução do programa que decidiu auxiliar.

A Bolsa de Valores Sociais (BVS) é a alternativa eficaz para empresas de todas as dimensões e sectores que pretendam aplicar com a máxima segurança as verbas de Responsabilidade Social e de apoio solidário em Organizações da Sociedade Civil, que sejam capazes de devolver esse investimento na forma de lucro social. A fórmula do sucesso é simples: a entidade garante que os cidadãos/ empresas encontrem a transparência e profissionalismo por parte das organizações não governamentais e instituições sem fins lucrativos, ou seja, quando apoiam boas causas sabem à partida qual o impacto que a sua doação terá na comunidade e qual o seu efeito. Ao estabelecer parceria com este organismo adquire o selo de “Investidora Social na BVS”, que pode ser exibido nos materiais de divulgação da empresa. Por outro lado, terá assessoria garantida nas campanhas especiais de mobilização interna, de voluntariado, de marketing social e de todas as áreas que pretenda explorar para sensibilizar os colaboradores. Os particulares também podem ‘jogar’ nesta bolsa.


Proposta atraente

A ideia de desenvolver um projecto em tudo idêntico ao de uma Bolsa de Valores tradicional surgiu da necessidade de tornar a sociedade mais justa e promissora, através da criação de um modelo de troca e encontro entre as organizações com programas concretos e relevantes para o desenvolvimento de determinado segmento da sociedade e os doadores, que na maioria das vezes se sentem perdidos na hora de legar os seus fundos, acabando inevitavelmente por perder o ‘rasto’ da iniciativa que apoiaram. O objectivo da BVS ultrapassa largamente a finalidade da caridade, visto que nestes casos os investimentos, tal como acontece nas Bolsas de Valores, geram lucros. Aliás, a filosofia é idêntica. Aqui circulam acções, há lugar para investidores e apostas. A única diferença está no retorno: ao invés do financeiro, o lucro é para a comunidade.

O conceito pode e deve ser adaptado pelo países mais pobres, nomeadamente aqueles que estão em desenvolvimento. Actualmente, a Campanha do Milénio para erradicar a pobreza até 2015 tem desenvolvido uma série de actividades nas diversas áreas criticas da sociedade, pelo que este mecanismo pode ser um importante instrumento de auxilio à implementação de projectos. Afinal, o continente africano dispõe de um incalculável número de organizações não governamentais a actuar no terreno, que necessitam urgentemente de investidores interessados em apoiar e acompanhar as propostas sociais. A Angola’in apresenta-lhe uma iniciativa com futuro, que possui todos os ingredientes para ‘vingar’ no contexto africano. No final de contas, todos ganham com um investimento seguro.



Pioneira e inovadora

A primeira BVS nasceu no Brasil. O programa foi criado pela Bovespa (http://www.bovespa.com.br), em 2003. Desde a sua fundação até Fevereiro de 2009, as correctoras arrecadaram R$ 4,7 milhões, possibilitando a implementação de 36 programas educacionais de ONGs brasileiras, que actuavam ao nível das condições sociais de crianças, adolescentes e jovens adultos das várias regiões. As organizações da sociedade civil que pretendem ser cotadas na bolsa devem apresentar um projecto, que posteriormente será analisado, de acordo com a sua viabilidade, capacidade de inovação e impacto na sociedade.

O organismo brasileiro conta com o apoio oficial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), tendo inclusive sido reconhecido pela ONU, em 2005, como ‘case study’ (caso de estudo) e modelo a ser aplicado por outras bolsas de valores. Em 2006, serviu de inspiração para a formação da South African Social Investment Exchange (Bolsa de Investimentos Sociais da África do Sul), que contou com o auxilio da Bolsa de Johannesburgo. Em 2007, a BSV brasileira passou a incluir projectos na área ambiental, dadas as preocupações com as alterações climáticas. Recentemente, a entidade formou o segundo espaço do género e o primeiro na Europa. Portugal foi o país escolhido para albergar a iniciativa.


O caso português

Inaugurada em Novembro de 2009, a Bolsa de Valores Sociais de Portugal negociou em apenas um mês cerca de 17 mil euros em acções, valores considerados “positivos” pelos seus responsáveis. No final do ano, a entidade lusa contava com 210 investidores sociais (entretanto juntaram-se mais três instituições), que contribuíram com um milhão de euros para financiar dez novos projectos, atingindo os 57 mil euros de acções no final do primeiro trimestre de actividade. No balanço de Janeiro, a BVS divulgou ainda que dispunha de 72 candidaturas em análise que deram lugar à dezena de projectos cotados. A meta é ter 24.

A BSV lusa é a primeira na Europa e conta com o apoio da Euronext Lisboa e das Fundações Gulbenkian e EDP. As áreas de actuação são multidisciplinares. É o caso da PAR, uma das organizações escolhidas que promove os objectivos do Milénio da ONU, através da actuação junto dos universitários, um dos grupos com capacidade para exterminar a pobreza. Já o plano da Etnia consiste em valorizar a diversidade cultural em escolas onde 25 por cento dos alunos são filhos de imigrantes com problemas de exclusão. Na mira estão oito estabelecimentos do Chiado, em Lisboa.

Os projectos a carecer de apoio são apresentados no site da BVS (http://www.bvs.org.pt) e cada empresa ou cidadão pode seleccionar a entidade a quem deseja doar acções. Cada acção vale 1€ e é obrigatório adquirir no mínimo dez. Ao registar-se, o investidor vai acompanhando o desenvolvimento do organismo que apoia.

O funcionamento desta Bolsa é simples. Miguel Atahyde Marques, presidente da Euronext Lisbon, explicou a um jornal diário português que os princípios da BVS são iguais aos da Bolsa de Valores, ou seja, “pôr em contacto fundos para investir e instituições que precisam de fundos para desenvolver projectos”. A transparência e a prestação de valores são os princípios de conduta do mecanismo. “É um ponto de encontro entre dadores e instituições que precisam de fundos para desenvolver os seus projectos de responsabilidade social”, esclarece.


Mais-valia africana

A BSV brasileira inspirou outros mercados, que implementaram projectos semelhantes, recorrendo à iniciativa local. África do Sul, Índia, China e Estados Unidos desenvolveram projectos de investimentos sociais, que se dedicam a uma distribuição mais equitativa do capital pelas comunidades mais pobres. O programa é semelhante ao da Bovespa (Brasil), mas dinamizado por organizações sociais. O mecanismo tem um funcionamento similar ao da entidade brasileira. Os projectos são rigorosamente seleccionados e apresentados ao público como oportunidades de investimento com retornos sociais. Os planos candidatos são submetidos a múltiplos critérios, em que o mais preponderante é a sua capacidade de gerar lucros para a sociedade, propiciando o desenvolvimento da África do Sul. As propostas são colocadas no site (http://www.sasix.co.za), onde surge em detalhe o risco do plano, o investimento mínimo requerido e o tempo esperado para se obter resultados. O investidor pode escolher um projecto ou criar um portfolio com várias acções a apoiar. Neste caso, é estabelecido um elo entre as organizações não-governamentais que necessitam de fundos para desenvolver um determinado projecto (que possa contribuir para a erradicação da pobreza) e os investidores. Duas semanas após o seu lançamento, em Junho de 2006, tinham sido movimentadas mais de duas mil acções em projectos sociais, gerando cerca de R$100,000 em fundos.

Estes projectos revelam sinais de forte empreendedorismo por parte dos africanos. Celso Grecco, director da BVS está ciente de que o continente “não pode, nem quer depender mais da caridade alheia”. “Tenho a certeza de que o povo africano quer investimento social”, assegura o responsável, em declarações à Angola’in.



Angola, potencial candidata

Celso Grecco explicou numa entrevista concedida à revista portuguesa Gingko que o modelo pode ser replicado em qualquer parte do mundo. “Todos os países têm bolsas de valores, todos têm problemas sociais”, esclareceu. Aliás, o criador do conceito arrisca apontar Angola como o próximo país a aderir a esta ferramenta. A escolha é encarada como “um processo natural, a partir da experiência em Portugal”.

De facto, o boom económico pode potenciar a instalação da organização ou de entidades sociais, à semelhança do que acontece na África do Sul. Celso Grecco admitiu à Angola’in que está convicto de que “será possível encontrar em Angola empresas e cidadãos bem estabelecidos, dispostos a ajudar a gerar este novo tipo de capital – o capital social – e, com isso, diminuir a distância entre pobres e ricos”. Aliás, o responsável aponta a exterminação da miséria como o único caminho a seguir para acabar com esse fosso.

Angola pode ser o próximo destino, visto que partilha a herança cultural de solidariedade, característica intrínseca das antigas colónias portuguesas. “É natural que os países africanos de língua oficial portuguesa sejam os próximos e, nesse sentido, vejo Angola como um potencial mercado, inclusive pelo seu desenvolvimento económico”, assegura Celso Grecco. Questionado pela Angola’in quanto aos benefícios da inclusão da BSV na nação angolana, o cérebro deste organismo lembra que o país “enfrenta tremendos desafios sociais”, pelo que “uma Bolsa de Valores Sociais pode ser parte da resposta”, já que “a grande pátria luso-brasileira-africana tem o espaço e as condições para a sua criação”.

“A mais-valia da BVS para Angola seria ajudar o país a perceber que Organizações Sociais fazem um trabalho que realmente promove o desenvolvimento económico das comunidades pobres, combatendo a pobreza e criando mecanismos de educação que efectivamente promovam a inclusão social”, sustenta.

Contudo, uma questão sobressai quando se fala do contexto nacional. O país está preparado para acolher este projecto? Celso Grecco acredita que sim. “Os Governos, muitas vezes por falta de pessoas de visão estratégica, preocupam-se em gerar riquezas para depois dividi-las. O foco está na atracção de capital internacional e na estabilidade dos mercados financeiros”, refere. Mas como aplicar essa lógica no contexto das necessidades das comunidades? Para o responsável são temas indissociáveis. “Não é possível gerar apenas capital financeiro, é necessário cuidar do capital social”, argumenta. “Este último é aquele que é gerado pelas organizações sociais, pelas cooperativas, pelas pequenas empresas sociais e micro-empreendedores”, reitera, defendendo que o dinheiro pode ser simultaneamente promotor de riqueza e de bem-estar para a sociedade.

Celso Grecco acredita que este é o caminho para o desenvolvimento sustentável das sociedades. O mercado africano está por explorar. No entanto, o sucesso da BVS no Brasil e em Portugal é um auguro da viabilidade deste projecto ao nível das comunidades mais desprotegidas. Para o responsável brasileiro, estão reunidas todas as condições para a sua implementação. Resta aguardar pelas iniciativas das organizações civis e estatais.

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