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terça-feira, 21 de julho de 2009

Capitalismo


Morte do Capitalismo?



Analistas mundiais esperam por um reforço da regulação, mas o sistema não está em perigo.

As notícias que davam conta da morte do capitalismo na sequência da crise global que tem vindo a alastrar ao planeta como um fogo incontinente têm-se revelado não apenas prematuras, como infundadas. O sistema - que o génio humano criou de improviso ao mesmo tempo que inventava a máquina a vapor - está saudável como um mancebo, a carregar as baterias para o próximo par de décadas e, quando muito, a precisar de uns retoques na regulação. Não é fácil encontrar um economista que saia da órbita deste registo, e mesmo aqueles que de algum modo acordaram o fantasma de Karl Marx da sua campa londrina, tê-lo-ão feito mais por desfastio - ou porque o empirismo da coisa tinha graça - que propriamente por convencimento. O capitalismo “está aí para ficar”, disse recentemente um dos maiores gurus mundiais da gestão, o indiano Ram Charan. “Apesar dos seus excessos”, salientou. Excessos?

Talvez antes crises de crescimento, uma vez que tudo isto não é mais do que uma forma do próprio sistema incorporar as novidades que a sua vitalidade vai criando nas bolsas de inovação (aliás, historicamente incontroláveis). Mas, contrapõem os que anunciam a morte do capitalismo, os Estados intervieram com radicalismo, nomeadamente nacionalizando empresas - com destaque para o sector financeiro. E então? Desde a sua génese, o capitalismo assentou sempre (e defendeu quando isso estava em causa) em Estados fortes e interventivos. Razão pela qual, vários economistas continuam a defender a ideia de que o Estado deve voltar a ser forte nas funções que lhe competem, designadamente na regulação da economia, na regulação financeira e na educação, entre outros sectores.

Alertam por isso para a importância de uma regulação que esteja à altura do desenvolvimento da economia e que o Estado saiba fazer cumprir. Quanto ao restante, tudo na mesma: os paradigmas em que o capitalismo se baseia - a propriedade individual, a livre iniciativa, a democracia e o Estado social - não sofreram qualquer alteração, pelo que o sistema [capitalista] não está em causa, mesmo que o mercado, afinal, não chegue para equilibrar todas as forças que lhe dão vida. O capitalismo, no que tem de matricial (propriedade privada dos meios de produção; relação salarial como relação de trabalho fundamental; regulação pelo mercado; lucro como principal motivação para o investimento), não mudou, afirmam os grandes analistas. No entanto, encontra uma clara necessidade de reorientação: não se sairá dela [da crise actual] sem modificações. A mais importante residirá sem dúvida na componente regulatória da actividade financeira: obrigações de maior transparência, exigência acrescida de rácios que protejam credores e accionistas minoritários,



muito provavelmente, recuo acentuado nos privilégios garantidos por instituições como as ‘off-shores’ ou o segredo bancário, anunciam. Segundo essa linha de raciocíno, o capitalismo não morreu porque não dá sinais de estar em coma nem em regime de respiração assistida. Ao contrário, está em fase de crescimento e de agregação daquilo em que ele próprio, o capitalismo, transformou o

mercado. Mas resta ainda uma incógnita: que resposta da sociedade civil à crise global? É o que no futuro se verá.


Os paradigmas em que o capitalismo se baseia - a propriedade individual, a livre iniciativa, a democracia e o Estado social - não sofreram qualquer alteração, pelo que o sistema [capitalista] não está em causa, mesmo que o mercado, afinal, não chegue para equilibrar todas as forças que lhe dão vida


Economia multipolar

A crise tem vindo a fazer emergir um mundo multipolar. Senão vejamos: o que é feito do antigo mundo do G8? A centralidade da recente cimeira dos G20 é um facto novo. Traduz uma mudança de fundo não só na economia mundial mas também na cena internacional, a “ascensão do resto”, na expressão do americano Fareed Zakaria. A eclosão da crise financeira foi o acelerador. O G20 foi montado em 1999 após a crise económica asiática. Tratava-se de um fórum mais alargado do que o G7 (depois G8, com a Rússia), mas com um papel acessório. Com a crise financeira, deu um salto de qualidade: o G20 de Washington, em Novembro, já reuniu chefes de Estado e de governo, em vez de ministros das Finanças. No entanto, o vazio de poder nos EUA, no fim do mandato de Bush, reduziu o seu alcance, embora tivesse feito um diagnóstico das origens da crise, proposto medidas e agendado a recente cimeira de Londres. O relevo desta cimeira decorre em parte do apelo de Barack Obama a que os líderes dos 20 adoptassem uma “acção audaz, global e coordenada”, não apenas em relação à recuperação imediata, mas também em direcção a “uma nova era económica” que previna crises como a actual. A cimeira pode até ter desiludido, mas já produziu um efeito: a marginalização do G8, clube exclusivo dos antigos “grandes”, todos ocidentais à excepção do Japão, e a afirmação dos países “emergentes”. É a constatação de duas realidades. A China, a Índia ou o Brasil, as três economias que mais rapidamente cresceram nos últimos anos, estão fora do G8. A segunda é mais pesada: a crise mundial, iniciada na América, só pode vir a ser resolvida na base de uma estreita cooperação entre os EUA e a China. Há muito que os economistas falam na emergência de novas potências e, sobretudo, no movimento de transferência dos centros de riqueza e poder do Ocidente para a Ásia. Esta tendência foi travada pela crise asiática de 1997 e obscurecida pela ilusão de um mundo unipolar sob hegemonia dos Estados Unidos. Este foi um dos



grandes temas do debate americano durante o segundo mandato de George W. Bush. A última manifestação foi o relatório de prospectiva dos serviços secretos americanos publicado em Novembro passado - Global Trends 2025, a Transformed World - onde se constata: apesar de os Estados Unidos permanecerem a principal potência, a dominação americana será severamente

reduzida e será acelerada a erosão da supremacia americana “nas áreas política, económica e, possivelmente, cultural”. A crise forçou o debate sobre os grandes símbolos da dominação americana. Continuará Wall Street a ser a capital financeira do mundo? Qual o destino do dólar? Conservarão os EUA o domínio nas tecnologias de ponta e nas indústrias culturais? O jornalista Fareed Zakaria popularizou a expressão “a ascensão do resto” (The Rise of the Rest): é inevitável uma redistribuição do poder em todas as dimensões, industrial, financeira e cultural, que limitará a

dominação americana e conduzirá a um sistema multipolar. Não se trata propriamente de retomar as ideias de George Kennedy sobre a “A Ascensão e Queda das Grandes Potências” (1987), mas de constatar a emergência de novas.

O Global Trends 2025 sublinha exactamente a ascensão de uma nova “ordem global multipolar”, em que potências como a China e a Índia superarão economicamente a maioria dos velhos membros do G8. Os EUA sabem que se o seu poderio assentou numa economia pujante, as futuras potências económicas não se limitarão a ser ricas mas desejarão também ser “poderosas”. Um geopolítico americano, Parag Khanna, antevê um mundo organizado em torno de “Três Grandes”, EUA, China e União Europeia, mas em que dezenas de países, do Sueste Asiático à América Latina, passando pela

Turquia, ajudarão “a moldar a globalização”.


Nova era americana

A nova administração americana foi colocada perante um desafio: ou os EUA aceitam e tentam moldar o novo mundo multipolar, reconhecendo os limites do seu poderio, ou correm o risco de lançar o caos na ordem internacional. A crise não deixou alternativa a Obama, que assumiu a realidade para recuperar a iniciativa, o que em princípio lhe concede uma posição de vantagem. O mesmo fez a China. Não tem alternativa à cooperação com os Estados Unidos. Mas tomou nota da nova realidade, da rápida subida do seu estatuto, passando a tratar com Washington de igual para igual, do futuro do dólar à redistribuição do poder no FMI. Os grandes perdedores serão seguramente as economias com menos capacidade de adaptação. A Rússia é o exemplo do mais provável desastre. As economias capitalistas “centrais” estão já a debater a sua “reconversão”. A começar pelos EUA. Também a maioria das economias asiáticas, duramente flageladas, parecem ter condições para “sair por cima”. A China prepara-se para acelerar uma viragem, já esboçada, mas travada pela primazia absoluta da exportação: alargar intensivamente o mercado interno e reforçar a aposta numa produção industrial de elevada tecnologia. Visto da Europa, o crescimento asiático parece essencialmente fundado nas exportações, diz o especialista francês Jean-Raphael Chaponnière. Mas a ênfase neste aspecto “oculta o essencial: o crescimento asiático assenta muito mais na procura doméstica”. É cedo para conhecer a saída da crise. Mas, ao “acelerar a viragem para a Ásia, a crise será o parto de um mundo multipolar”, conclui. Dois dos autores do Global Trends, Mathew Burrows e Jennifer Harris, sublinham, por outra via, o mesmo aspecto. “A própria globalização será transformada pela crise financeira.” A China é obrigada a voltar-se para o seu imenso mercado interno, o que, entre outros efeitos, provocará o crescimento e o reforço do papel das suas classes médias.


Ascen são do resto

Se, graças à crise financeira, o G20 destronou o G8, já “a ascensão do resto” na ordem política fia mais fino. O Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Miliband, quis convidar para uma reunião paralela à cimeira os 15 do Conselho de Segurança da ONU, a fim de discutirem a proposta do seu alargamento a 21 membros, lançada pelo Brasil, Alemanha, Japão e Índia. A China e os EUA disseram que não. “Os chineses mataram [a proposta] e os americanos não foram muito positivos”, disse um diplomata do Conselho de Segurança. Motivo pelo qual se espera com grande expectativo o desenrolar dos próximos acontecimentos.

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