Bem-vindos ao blog da revista Angola'in!

Uma publicação dirigida a todos os angolanos, que pretende ser o elo de ligação da lusofonia. Queremos que este espaço seja mais um meio de contacto com os nossos leitores e todos aqueles que têm ligações a este país. O nosso objectivo é estarmos próximos de si e, com isso, esperamos acolher a sua simpatia e a sua opinião, como forma de enriquecer o nosso trabalho. O seu feedback é uma mais-valia, um estímulo para continuarmos a desenvolver um projecto inteiramente dedicado a si!

Angola'in à venda em Portugal e Angola

Angola'in à venda em Portugal e Angola
A 1ª edição 2012 da Angola'in é pura sedução! Disponível em Angola e Portugal, a revista marca o seu regresso ao bom estilo das divas: com muito glamour e beleza. Uma aposta Comunicare que reserva grandes surpresas para os seus leitores

terça-feira, 21 de julho de 2009

Planeta Ásia

Os asiáticos olham para os europeus como

pontes para os mercados e daí a procura

de alianças, de fusões e de aquisições



Tsunami asiático

O mundo actual está a passar por uma importante etapa de transição. A frase é repetida diariamente, sem que com isso se perceba, muitas vezes, o que está prestes a mudar. No entanto, urge saber que a próxima fase provavelmente deslocará o centro da economia mundial do oceano Atlântico para a Ásia. Ela mudará a composição da produção e do comércio mundial, a maneira pela qual o mundo utiliza os recursos e a constituição das populações da Europa e dos EUA. É quase certo que criará graves tensões com as economias que hoje lideram o mundo, à medida que estas forem sendo desafiadas na sua predominância económica global. Hoje os EUA e a Europa representam cerca de dois quintos da produção económica global, que soma USD 40 triliões. Até 2025, o número global total poderá aumentar 2 ½ vezes, indo a USD 100 triliões. A China e a Índia deverão representar perto de dois quintos desse número. A China, com um PIB de USD 25 triliões em 2025,



medido em termos da paridade do seu poder aquisitivo, provavelmente será a maior economia do mundo, seguida pelos EUA com USD 20 triliões e a Índia, em terceiro, com aproximadamente USD 13 triliões. Essas projeções estão baseadas nas taxas de crescimento de longo prazo; não está além da capacidade da China crescer a uma taxa de 6% ao ano durante os próximos 25 anos (ela tem crescido a uma taxa maior nos últimos anos). Depois de apresentar uma taxa de crescimento anémica de 3,5 % ao ano por mais de três décadas após a independência, a Índia ainda precisa fazer muito para conseguir se emparelhar. Serviços de saúde e sectores como as novas tecnologia da informação contribuirão em pelo menos um ponto percentual para elevar a taxa de crescimento da Índia. Contudo, tendo populações acima de um bilião de pessoas cada, esses dois países criarão



turbulências à medida que as suas economias forem acelerando. As economias dos tigres do Leste asiático avançaram de forma rápida, mas imperceptível. As economias-elefante da Ásia, em contraste, causarão comoção global assim que começarem a disparar. A sua dimensão é que as colocará à frente das outras economias. E os seus tamanhos é que exercerão um efeito palpável sobre a economia global. Uma taxa de crescimento de 6% ao ano sustentada durante 25 anos elevará o crescimento global de menos de 3% ao ano, durante os últimos 25 anos, para mais de 3,5% nos próximos 25. A maioria desse aumento virá da indústria; por muito tempo, a composição da produção mundial esteve em mudança, à medida que as economias dos EUA, Europa e Japão avançavam na direcção do sector de serviços e se afastavam da agricultura e da produção industrial como principais componentes do PIB. A produção mundial estava-se a tornar mais leve, consumindo menos insumos materiais. Isso mudará assim que a China e a Índia assumirem a liderança. Pela primeira vez na história, duas das três maiores economias também estarão entre os países mais pobres em termos da incidência de pobreza absoluta. China e Índia terão uma população conjunta de

cerca de 3 biliões de pessoas até 2025, 500 milhões das quais ainda viverão abaixo da linha de pobreza. Elas necessitarão de imensas quantidades de comida e de outros itens essenciais.

Para atender às suas necessidades, ambos deverão continuar a enfatizar a indústria e a agricultura.

Assim, a produção mundial começará a ficar mais pesada. As consequências para o

aquecimento global podem ser devastadoras. É por isso que a comunidade internacional deve assegurar que a China e a Índia utilizarão os recursos responsavelmente. Também ocorrerão

grandes mudanças demográficas. Com as suas economias em crescimento acelerado, China e Índia irão dispor de recursos para investir na educação e ensino de milhões de cidadãos. Assim, terão um suprimento suficientemente grande de pessoas com as qualificações exigidas pelos sectores baseados em conhecimento dos EUA e Europa. Enquanto isso, o Japão e a Europa começarão a sentir um decréscimo das suas populações. Isso criará uma demanda generalizada por trabalhadores especializados vindos do exterior, que China e Índia terão condições de fornecer em abundância. O que estamos prestes a testemunhar, portanto, não é simplesmente mais um período de emparelhamento.

Assim que as economias-elefante começarem a avançar rapidamente, redefinirão a economia mundial que conhecemos.


É na base do “dumping social” que os países em vias de desenvolvimento beneficiam de uma posição favorável, mas indigna, face aos países mais ricos, pois passam por cima de alguns direitos humanos básicos



O assalto final

Os grupos económicos e as start-ups tecnológicas da Ásia estão numa nova vaga de internacionalização.

A palavra de ordem é “go global” e os alvos não são só os países do Terceiro Mundo - mas os mercados da OCDE. China e Índia levam a dianteira. E, paradoxalmente, a face da liderança começa inclusive a mudar para caras ocidentais à frente de marcas asiáticas de referência. Um conjunto vasto de empresas chinesas, estatais e privadas, assumiu a directiva oficial do “go global”. A lógica da exportação chinesa para o contentor já não entusiasma, apesar de ser a imagem de marca que os ocidentais retêm ainda hoje. A globalização tornou-se a palavra de ordem para as empresas chinesas que aspiram passar de campeões nacionais a jogadores globais. E, por isso, é natural que passem a mostrar a sua ambição global. Os ocidentais, por exemplo, dão-se, cada vez mais, conta que não há apenas um sentido - o da deslocalização das empresas europeias e norte-americanas para a Ásia, paraíso do fabrico barato de mercadorias. Há a direcção inversa: os asiáticos olham para os europeus como pontes para os mercados e daí a procura de alianças, de fusões e de aquisições. Também é erróneo o olhar ocidental que se limita ao “offshoring” de serviços de baixo valor. Hoje, a Ásia é um local de testes em diversas áreas das novas gerações de telecomunicações e uma região importante para a própria Investigação & Desenvolvimento em geral. A combinação ganhadora define-se numa fórmula: custo baixo do talento asiático para serviços de alto valor acrescentado.




‘Dumping social’ selvagem

Muitos arautos da “consciência social” têm vindo a público expor a indignidade do “dumping social” nos países em vias de desenvolvimento (PVD). Quando um PVD exporta determinado produto com grande competitividade, e quando esta vantagem assenta no aproveitamento de trabalho infantil ou no espezinhamento de garantias fundamentais dos trabalhadores, tal situação enquadra-se no que se convencionou chamar “dumping social”. Estes países fazem tábua rasa de certas garantias do ser humano que são o património genético de qualquer civilização. Só porque passam, muitas vezes, por cima dessas garantias é que estão em condições de beneficiar de uma competitividade acrescida no mercado internacional. Logo, são têm sido frequentemente acusados de fazer concorrência desleal com os países mais avançados, onde aquelas garantias sociais são respeitadas. Os PVD são culpados de resvalar para o “dumping social”, aproveitam-se de uma batota

indigna que os favorece no comércio internacional. Para estes infractores de uma ética mundial unidimensional, o problema está na negligência de um catálogo mínimo de direitos que ultrapassa a esfera do trabalhador e repousa na pessoa humana. Acham que é impensável que nos alvores do século XXI certos países se possam aproveitar de trabalho infantil. Consideram indignas as condições de trabalho a que os trabalhadores destes países se expõem. Fazendo parte das conquistas inalienáveis dos trabalhadores, representando um capital inquebrantável dos padrões civilizacionais, tais garantias deviam-se estender a todo o mundo. Seria um sinal inequívoco de civilidade, um sinal bem claro de um mundo mais justo para com o ser humano enquanto agente produtivo. No entanto, até hoje boa parte do mundo tenta perceber se estes arrufos contra o “dumping social” são genuínos ou se as pessoas actualmente se agarram a um putativo dever de consciência para denunciar tais situações, fazendo-o de forma desinteressada. Ou ainda se são motivadas por outros interesses que se escondem neste pretexto. O que é igualmente indigno. No primeiro caso, temos os líricos que acreditam piamente que a justiça social se pode estender num manto uniforme aos quatro cantos do planeta. Independentemente dos diferentes hábitos, das diferentes condições estruturais, sabendo que ambas as realidades se movem contra a possibilidade

de se ter nos países asiáticos e africanos a mesma bitola de justiça social que é empregue no mundo ocidental. Num mundo tão diverso, com uma acentuada diferença de costumes sociais, é intrigante como se pode ter a ambição de estender padrões uniformes a todo o mundo. Como se a bitola pela qual se rege o ocidente fosse necessariamente aplicada noutras paragens, mesmo quando a idiossincrasia destes locais é suficiente para negar a aplicação desses padrões. É a tendência etnocêntrica que domina o mundo contemporâneo, um dos seus grandes males. Para além desta cegueira, muitos dos defensores da eticidade mundial agarram-se a interesses próprios para erguer o dedo acusador contra o “dumping social”. Porque, afinal, é na base do “dumping social” que os PVD beneficiam de uma posição favorável a expensas dos países mais ricos. Falta saber até que ponto são genuínas as lamúrias de tantos quantos protestam contra o “dumping social”. Será porque manifestam uma honesta preocupação pelo desrespeito de garantias essenciais do ser humano? Ou apenas porque o “dumping social” penaliza a economia nacional? Aqui vem à superfície, muitas vezes, uma inconfessada hipocrisia que atenta contra a ambição de quem patrocina uma consciência social uniforme.

Sem comentários:

Enviar um comentário