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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Entrevista: Manuel José




'Os atletas têm de ser gigantes'



Como surgiu o convite para treinar a selecção?

O convite surgiu quando já tinha transmitido ao meu clube no Egipto que não iria cumprir o último ano de contrato, ou seja, a época que está a decorrer 2009/2010. Queria descansar, mas de repente apareceu a selecção. A princípio não estava muito entusiasmado, pois tinha a ideia de parar quatro ou cinco meses.

O que me convenceu foi o desafi o de treinar uma selecção que no ranking africano está numa posição bastante baixa. Hoje é 20ª, mas há uns meses atrás estava no 26º lugar. Além disso, é a selecção de um país que organiza o CAN, o que por si só é motivador, uma vez que me abre mercado ao nível de futuras selecções, podendo desta forma ajudar a prolongar a minha carreira. Sem dúvida que é um acontecimento que cria uma grande expectativa em Angola. Todos querem ganhar. Ninguém acredita no Mundo e muito menos em África que possamos vencer o desafi o, por isso aceitei e não me arrependo.


Como descreve a equipa que encontrou?

Encontrei uma equipa desmoralizada, desmotivada e com índices de confi ança baixíssimos porque vinha de quatro jogos em que não tinha ganho nenhum, tendo inclusive sofrido sete golos. Procurei desde logo difundir ideias diferentes. Comecei a introduzir mudanças, uma delas ao nível do modelo de jogo. Angola jogava com a táctica de 4x3x3 e 4x4x2, na maior parte das vezes, 4x5x1, muitas vezes, e quis que a equipa começasse a jogar num 3x5x2 ou num 3x4x3. Passei de uma defesa clássica de quatro homens, para uma defesa de três, jogando com dois jogadores de marcação e um livre. Depois disso, tenho vindo a incutir nos jogadores uma filosofia competitiva agressiva, de pressing constante sobre o adversário e de circulação de bola. A base do futebol africano e angolano é a técnica e por isso tem-se de jogar de acordo com as características dos jogadores. Dessa forma, passamos a jogar um futebol de pé para pé, curto, de apoio, de passe e de devolução do passe.

Jogamos em situações de dois contra um permanentemente, mas sempre em espaço curto, fazendo-o sem medo e para ganhar contra todas as equipas. Essa é a nossa fi losofi a e a que vamos levar para o CAN.


Essas mudanças foram conseguidas?

Para se ter sucesso, é importante que treinador, equipa técnica e jogadores tenham uma relação profi ssional e pessoal boa, assente em valores de respeito e amizade. Penso que isso foi conseguido. O grupo está formado e pronto para jogar. Faltava-nos ultrapassar o problema da ansiedade. Essa tem sido a nossa maior difi culdade. Para a transpor tratamos de ter profi ssionais de outras áreas, psicólogo, nutricionista, entre outros, que ajudassem a educar a mente dos jogadores. O importante é fazer-lhes sentir e perceber que este evento é um momento único na vida deles e do país, visto Angola ser a anfi triã. Esse é o peso histórico que irá perdurar. Uma responsabilidade de todos, que deve ser encarada com optimismo e funcionar como um factor de superação e não de inibição. O que peço aos meus jogadores é que a personalidade competitiva se revele verdadeiramente. Foi sobre essa matriz psicológica que trabalhamos, no sentido de termos um perfi l forte, em que todos os atletas percebam que têm de ser gigantes.

Jogamos em casa, temos um público fantástico para um estádio lindo, dos melhores e mais modernos do mundo, que comporta 50 mil pessoas e isso tem de ser um orgulho, um prazer e um estímulo para que os jogadores sintam uma vontade tremenda de superação.


É uma equipa de constelações ou a estrela é o grupo?

A estrela é a equipa até porque Angola não tem estrelas. Temos jogadores médios em equipas pequenas e outros atletas a jogar em equipas grandes, mas com um futebol não tão profi ssional, como é o caso dos países árabes. Estão em equipas de topo, mas que praticam um futebol sem a dimensão da Europa. Por esse motivo, o mais importante é o conjunto. Os jogadores têm de jogar para a equipa, com uma humildade grande e uma intensidade alta em cada jogo. Acima de tudo, temos de estar muito concentrados e ser uma selecção compacta e organizada. Queremos jogar sempre para ganhar. Não temos as estrelas que outras selecções têm e que podem

decidir o jogo de um momento para o outro e por isso temos de nos valer acima de tudo do colectivo. Não há outra decisão a tomar, temos de nos superar recorrendo a um espírito guerreiro, com uma entrega total ao jogo.

Com um público deste até a mim me apetecia jogar. Acho que esta é uma oportunidade tremenda para serem felizes.


Como classifica o grupo da primeira fase?

Difícil, mas equilibrado. A Argélia é o 4º qualificado no ranking africano, o Mali é o 7º e temjogadores em clubes como a Juventus, o Real Madrid ou o Barcelona, o que faz deles jogadores

de topo do futebol europeu e mundial. Angola é a mais modesta. A equipa da Argélia é uma selecção que está em alta. Conseguiu, ao fi m de 17 anos suponho, o apuramento para um Campeonato do Mundo. São, por isso, equipas sempre difíceis, muito experientes e que jogam no erro do adversário. O importante é qualificar-nos, depois como são jogos a eliminar tudo pode acontecer.




Independentemente da classifi cação, organizar um CAN é sempre importante para um país?

Não foram apenas os estádios modernos que se construíram, mas também outras infra-estruturas importantes para o desenvolvimento do Desporto. Os espaços devem ser rentabilizados a favor das novas gerações. Angola tem de apostar num projecto de formação e arranjar infra-estruturas desportivas onde os jovens possam aprender. Para formar jogadores, o país dispõe de um leque alargado de escolhas, importa criar um plano. Agora que as vias de comunicação começam a oferecer condições de deslocação por todo o país estruture-se um Campeonato Nacional de Juniores,

um Campeonato Nacional de Juvenis, campeonatos distritais, selecções distritais, escolas de jogadores, centros de formação... Primeiro têm de criar uma organização, depois mais e melhores infra-estruturas porque a matéria-prima existe para ser desenvolvida. Se for feito já, não tenho dúvidas, que dentro de uma década começarão a surgir grandes jogadores. É um investimento a longo prazo.


Como caracteriza os seus jogadores?

Tenho jogadores que são humildes e boas pessoas. Principalmente os que jogam no Girabola, são acima de tudo muito ingénuos. De uma ingenuidade que qualquer atleta de 20 anos a jogar na Europa já não tem. Infelizmente, o nível profi ssional entre o ‘velho continente’ e Angola tem uma diferença muito signifi cativa, daí a razão desta pureza do jogador angolano. Há falta de cultura táctica e os índices de profissionalismo não são elevados. Nos que jogam fora de Angola, nota-se essa diferença porque entretanto já absorveram uma outra cultura, com outros valores, outra intensidade de jogo e outra organização. São diferenças que no jogo se tornam gritantes.

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