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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Entrevista: Justino Fernandes


‘Competir

para ganhar’



Antigo atleta e defensor incansável do Desporto, Justino Fernandes tem uma longa experiência. Durante um treino matinal da selecção, o presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF) descreveu à Angola’in como está a ser vivida a aventura do CAN. O responsável pelo Comité Organizador da prova está confiante nos bons resultados



O Homem

O desporto sofreu uma evolução, mas nunca tanto foi feito como agora. Como tem vivido a fase de preparação do CAN?

Neste momento, sinto um certo orgulho em ser presidente da FAF. Fui desportista durante muitos anos na selecção de Luanda e de Angola e enquanto atleta fui capitão das duas equipas. Isso deu-me uma certa experiência. Porém, infelizmente, tive de deixar o futebol, que na altura era amador. Joguei no ASA e estive a um passo do Sport Lisboa e Benfica. Porém, a minha mãe (a minha família é matriarcal) não encarou muito bem a minha partida. Éramos uma família bastante unida e decidi não ir.


Foi o desistir de um sonho?

Não, porque queria fazer uma formação superior, situação que acabou por acontecer. Aos 26 anos resolvi dedicar-me totalmente à minha formação. Depois da Independência fui director da Cuca, ministro da Indústria, da Juventude e dos Desportos e assim fui evoluindo. Só mais tarde surgiu o convite para a Federação, quando me pediram para agarrar o nosso futebol, que é um factor de unidade nacional.


Como analisa o trabalho que tem sido desenvolvido pela entidade?

A princípio, tivemos algumas difi culdades, porque a nossa associação não era muito bem vista ao nível da Confederação Africana de Futebol (CAF). Tivemos alguns dissabores com os meus antecessores. O nosso primeiro trabalho foi repor a imagem positiva junto da CAF, algo que conseguimos através de contactos directos com o senhor presidente Issa Hayatou. Entretanto, fui chamado para a comissão organizadora dos CANs e adquiri uma certa experiência. Depois do Coreia / Japão, em 2003, fui convidado para ser membro da comissão de auditoria interna da FIFA, cargo que ocupo até hoje. Nessa altura pensamos em organizar o CAN, mas chegamos à conclusão de que ainda não estávamos sufi cientemente maduros. Recentemente apresentamos a candidatura e de entre oito países fomos escolhidos.






Sempre manteve a esperança de conseguir trazer este evento para o país?

Se não tivesse esperança, nem sequer teria concorrido. O caderno de encargos da CAF não exige que se tenha as condições. Daí o cepticismo de muitos em relação à sua concretização. Estávamos a quatro anos do CAN e conseguimos mostrar que tínhamos os pressupostos todos. E era isso que a CAF queria. Saímos da guerra há seis anos e somos das economias que mais crescem no mundo. O país tem um desenvolvimento económico muito grande. Em dois anos, construímos quatro estádios novos, recuperamos 13 recintos e criamos os equipamentos necessários. Segundo os especialistas, o estádio 11 de Novembro de Luanda é o mais bonito de África, algo de que nos orgulhamos. Para materializar o projecto, foi necessário o apoio do Governo e do senhor presidente José Eduardo dos Santos, que foi fundamental em todo o processo.


‘Frutos’ gerados pelo CAN

A nível de desporto, quais os benefícios deste evento?

Sem infra-estruturas desportivas não há desenvolvimento. O futebol ganhou quatro estádios novos em quatro províncias. Temos infra-estruturas nas 18 localidades, contudo nas que vão albergar o CAN demos um salto qualitativo. Criamos as condições para dar início ao desenvolvimento, existindo igualmente a possibilidade de acolher outros eventos no nosso país, como é o caso da taça das confederações.

O torneio potenciou o desenvolvimento de uma série de áreas, ao nível da hotelaria, da construção civil, até na criação de emprego.


O progresso atrai mais investimentos?

Ora nem mais. Os ganhos serão a todos os níveis. Vamos mostrar que Angola não é só um país de guerra. É um acto de coragem porque vamos abrir as portas ao mundo, após seis anos de conflito e as pessoas não irão apenas ver o futebol. Vão tentar julgar-nos, avaliar a nossa hospitalidade, o nosso carácter e de que forma estamos a progredir. O CAN permitiu a criação de infra-estruturas envolventes, que provavelmente seriam produzidas daqui a uns dez anos. O evento já está a ser um catalisador do progresso. Por exemplo, iniciamos um pólo de desenvolvimento em torno do estádio de Luanda, onde começam a surgir projectos imobiliários, fruto das condições criadas na região.


A nível de recursos humanos acredita que agora é o começar de uma nova era?

É muito bom em termos de formação. E para tal temos que ter formadores. A nossa principal preocupação será em obter técnicos angolanos capacitados, que realmente possam formar os nossos jovens. Pensa-se que um bom jogador de futebol será um bom treinador e não é bem assim. São raros os casos de sucesso. Estes jovens [selecção nacional] aprenderam nos seus bairros, com bolas de trapos. Não tinham os fundamentos técnicos, que foram assimilados aqui, na idade adulta. Temos esse projecto, que queremos colocar em prática depois do CAN. Ao nível das infra-estruturas está aceitável. A vertente de criação de escolas é algo que temos que pensar. Temos ainda que questionar outro aspecto. Sou presidente da FAF em ‘part-time’. Tenho outras responsabilidades no país. Poderia fazer muito mais se estivesse apenas dedicado à federação, pelo que no fim deste mandato, daqui a dois anos, terei que ser substituído por um profissional a tempo inteiro.


Está nos desafios da federação formar equipas capazes de competir com os ‘grandes’ do mundo?

É para aí que devemos caminhar. Queremos ser cada vez mais fortes e há que apostar na formação. Porém, há sempre uma utopia nisso tudo. Por cada jogador congolês que desperta na Europa, fi ca uma série deles desperdiçados. Esses aspectos têm que ser bem ponderados e conjugados com a educação escolar da criança.



O ano de África

Como está a motivação da população?

O apoio do povo angolano é total. Só se fala do CAN, é o centro das conversas de todos. O Governo também tem dado um apoio incondicional, especialmente nos investimentos, mostrando-se interessado, pois sabe que o campeonato é uma mais-valia para desenvolver o nosso país, principalmente no aspecto de dignidade nacional.


Quais são as suas expectativas quanto à prestação da selecção?

Este grupo está a trabalhar muito bem. Quando os que jogam fora se juntarem a esta equipa vamos fazer um bom ‘team’. Não pretendemos participar, queremos competir para ganhar o CAN. Esse é o espírito incutido nos atletas. As conversas que têm com o professor Manuel José têm sido muito úteis. Agora, os nossos jogadores estão a acabar com a inibição. Está a ser feito um trabalho nesse âmbito e estão a ser acompanhados por pessoas especializadas para vencer esses receios.


A equipa tem evoluído tecnicamente?

Há já algum tempo, essa evolução tem sido bastante visível. É evidente que estamos a fazer jogos de treino e é um trabalho feito a longo prazo. Com a integração dos que chegam no dia 26, vão fi car muito mais desinibidos. Temos uma equipa técnica boa.


Apesar não participarem no Mundial de 2010, acredita que o evento pode ser importante para o país, inclusive no aproveitamento dos estádios?

Podemos acolher qualquer selecção no nosso país, principalmente aquelas que vão jogar em Joanesburgo. Temos condições excelentes na província da Huíla que, à semelhança de Joanesburgo, se encontra a cerca de dois mil metros de altitude. Temos um clima fantástico, hotéis excelentes e as equipas estão a procurar esse estádio.


É um ano importante para vocês?

Considero o ano do futebol em África. Em Janeiro será em Angola e em Julho na África do Sul. Estamos muito unidos e os sul-africanos pedem-me para fazer um CAN exemplar, pois será o prelúdio do que vai acontecer na África do Sul.


Que apelo gostaria de fazer à nação?

Deixo um pedido à população para que confie em nós. Estamos a trabalhar para dignificar o nosso futebol e dar uma alegria a este povo sofredor. O nosso obrigado por todo o apoio e prometemos fazer tudo para corresponder às expectativas.

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